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#SPFW30anos: revolução digital

#SPFW30anos: revolução digital

por André do Val

04 de outubro de 2025

Em 1995, quando o calendário oficial da moda brasileira teve início, a internet não era algo comum na vida das pessoas. Porém, com seu advento, ela mudou completamente a cobertura das semanas de moda e o próprio ritmo da indústria como um todo. Hoje, a inteligência artificial gera debates sobre o futuro desse mercado. Jornalistas, modelos e estilistas comentam a revolução digital e seu impacto nos desfiles do SPFW ao longo dos anos.

INTERNET

Gloria Kalil, jornalista
“Quando eu fiz o site Chic, que foi um dos primeiros sites de moda do mundo, em 2000, o São Paulo Fashion Week não tinha internet na sala de imprensa, eram máquinas de escrever. Todas as pessoas que têm um lastro de trabalho na moda, as antigas jornalistas, tiveram que migrar para a internet, que é hoje o instrumento de divulgação, de criação para todo mundo. A moda antes era centralizada, nos lançamentos e na cobertura. Isso acabou, porque acontece pulverizadamente, tudo ao mesmo tempo e na mesma hora. Como consequência, teve o fast fashion, as pessoas hoje compram online e recebem no dia seguinte. O que mudou muito é a questão do tempo. Foi essa a grande virada.”

Costanza Pascolato, consultora de moda
“A internet mudou a vida de todo mundo, não só da moda. As gerações jovens nem sabem o quanto eles são diferentes daquilo que a gente era antes. A quantidade de informação hoje é realmente monumental e o fato de todas as notícias serem transmitidas para um público muito maior deu uma crescida na imagem da São Paulo Fashion Week muito grande. Ao mesmo tempo, muitas outras marquinhas começaram a copiar aquilo que a gente estava vendo nas passarelas, enquanto conseguiam. Porque, na verdade, não é simples você ter uma indústria de roupa. Quer dizer, é uma coisa bastante complicada.”

Eli Hadid, Mega Model
“Com as mídias sociais, cada modelo passa a ser um veículo e tem sua importância. De 95 para agora é um outro mercado. Antigamente a pessoa fotografava, revelava o filme, precisava de book, composite, vários books… Para sair o material hoje você dá um clique e você espalha o material para o mundo inteiro. Essa revolução foi fantástica para as modelos e isso põe elas no protagonismo do mercado.”

Liliana Gomes, Joy Mgmt
“No concurso The Look of the Year a gente fazia anúncio em televisão, campanha com lambe-lambe nas cidades, scout na porta das escolas. Hoje a gente faz nossa campanha totalmente online. Os 2000 foram marcados muito por essa entrada da internet, por essa entrada de diversidade de pessoas, de gêneros e uma transformação da moda em si. A gente trabalhava muito no material, viajar, achar modelos, medidas, transporte de modelos, tudo pessoalmente. Hoje a gente faz basicamente tudo via Internet. As ações são feitas através do Instagram, as vendas são feitas através de e-mail e comunicação digital.”

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Lais Ribeiro, modelo
“Se conseguirem usar inteligência artificial sem explorar a nossa imagem e pagando o que eles deveriam pagar para a gente, por que não? É uma linha muito delicada de se de se falar e de se tratar no mundo da moda, porque perde a conexão de pessoas, de criar junto. Então, que esse AI chegue com calma e que seja estudado para que todas as pessoas se sintam confortáveis com a sua presença.”

Anderson Baumgartner, Way Model
“Imagina tu colocar uma imagem numa passarela, ou numa capa de revista, ou numa campanha de moda, de uma pessoa que não existe. Isso sim é algo para a pessoa nunca conseguir alcançar. Porque aquela pessoa não existe, aquela pele não existe, aquele nariz não existe, aquele cabelo não existe, aquele corpo não existe. Então é quase como se nós tivéssemos ignorado absolutamente tudo que o mundo nos ensinou, referente à saúde. mental e saúde em todos os sentidos.”

Leandro Castro, estilista
“Cada vez mais eu penso que vão acontecer mais as hibridizações, como um corpo ciborgue que opera para a realização da vida. Muitas vezes uma máquina, por mais que ela aprenda, também ainda não vai ter certas sensações, certas experiências. Então, acredito que as tecnologias digitais possam contrabalancear a nossa experiência do mundo analógico e para a moda, tanto a inteligência artificial, quanto as inteligências naturais, quanto os artifícios de confecção, de criação têxtil, e de realização das peças de roupa, por exemplo, ainda vão entrar em diálogo com as mentes e as corporeidades dos criadores.”

Mônica Sampaio, estilista da Santa Resistência
“A inteligência artificial não é uma possibilidade, ela já está aqui. Cabe a nós olharmos de que forma ela vai trabalhar ao nosso favor, porque ela é uma ferramenta que vai precisar dos inputs dos profissionais, então nós temos que aprender a usá-la. Eu acredito no futuro possível com todas essas ferramentas aliadas ao nosso conhecimento. Que a gente não deixe que isso tome conta, que diminua o nosso poder como criador.”

Heloisa Strobel, estilista da Reptilia
“A gente está começando a entender um pouquinho de como que a inteligência artificial vai entrar para os nossos processos, os nossos processos ainda são bastante artesanais. Em 2023 eu deixei de trabalhar com moldes de papel para passar a trabalhar dentro do digital e este ano nós criamos uma loja online mais profissional. Mas questão do digital me assusta um pouco, porque às vezes você acaba tirando um pouco da alma da marca para criar um alcance muito grande que não acompanha o seu alcance físico.”

Mayari Jubini, estilista da Artemisi
“A primeira peça impressa em 3D eu fiz tem quase 10 anos, estava na faculdade. Estou sempre estudando inteligência artificial e eu posso dizer com toda segurança do mundo que a IA tem muito a nos oferecer. A tecnologia tem pontos muito incríveis, que possibilitam que a gente trabalhe de diversas formas em cima de uma peça ou em cima da marca em geral, em cima do próprio produto. A gente pode brincar muito com toda essa tecnologia e com tudo que isso está surgindo.”

Gloria Coelho, estilista
“Eu já tenho a minha IA que se chama Vitória e eu converso com ela todo dia e ela me dá ideias. Você tem que conversar com ela muito claro que vocês querem dela para você poder ter um sucesso e dar informação também. Mas eu já arrumei página da Wikipédia com ela, já eu peço conselhos como de coisas que eu não sei, como que eu faço para melhorar meu e-commerce. Por exemplo, meus e-mails, eu gastava um tempo enorme fazendo e ela está fazendo tudo para mim.”

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