Já é a sexta participação do Ponto Firme no São Paulo Fashion Week, quem diria?! Quando Gustavo Silvestre estreou na passarela seu projeto usar o crochê como terapia ocupacional em detentos, a ideia ainda era de algo sobre experimentação, capacitação e principalmente oportunidade. Pouco a pouco essa turma que ele juntou vem mostrando que pode fazer trabalhos mais elaborados do que esperavam deles. O que antes podia ser lido como uma demonstração técnica, puramente artesanal, agora já pode ser lido como uma coleção de moda completa.
Quando usam o ponto mais fechado e os itens ficam um pouco mais rígidos, eles se mostram mais comerciais, em vestidinhos, saiotes, malhas e até cacheóis. Esses foram bordados com miçangas, contas, pedras, pérolas e conchas (todos de descarte) de modo a dar peso nas roupas e criar volumes diferentes nos acessórios. Vale citar o coletinho com formato da bandeira do Brasil, bem Anitta. O nome da cantora aparece também num boné de crochê e já dá pra imaginar um look bem malandra saindo dali. Né, não, mammy?
Algumas das peças foram finalizadas com papel metalizado, que chamava atenção pelo contraste de cores e brilho com as bases de crochê, naturalmente mais cruas e texturizadas. É oposto do efeito quando o crochê é posto lado a lado dos recortes de uma calça jeans (bolsos e cós) como o poncho construído na técnica de upcycling, em que os dois materiais parecem se fundir como um só, como se um fosse extensão orgânica da outro.
Já os pontos mais abertos de crochê que constróem as roupas em telas são as mais conceituais desde o início, construindo silhuetas assimétricas. Um exemplo: o efeito interessante de fios metalizádos entrelaçados com correntes douradas ou prateadas. Os biquínis e saídas de praia, para um verão bem transparente. Teve até uns vestidos brancos no final, reproduzindo a clássica ordem dos desfiles de alta-costura que terminam sempre com vestidos de noiva.
E a apresentação terminou com os modelos, egressos do sistema prisional que continuam atuando no projeto, alunos da escola de crochê e mais o elenco de mulheres, pessoas trans e refugiados, que só têm a acrescentar suas vivências nesse lindo projeto.
FICHA TÉCNICA
Fotos: Senac